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domingo, 18 de janeiro de 2009

Cinema Expandido - Artista como Designer Cientista

O ARTISTA COMO DESIGNER CIENTISTA


"‘Cidadão Kane’ de Orson Welles , ‘8 ½’ de Fellini, ‘A Aventura’ de Antonioni e ‘Pierrot Le Fou’ de Godard, são dramáticos, filmes de enredo, e ninguém nega a grandeza deles. Nós sabemos também que a maioria dos filmes verdadeiramente significativos operam inteiramente dentro dos parâmetros da condição humana. Além disso o senso comum nos diz que o artista deve trabalhar com o que existe, com o que lhe é dado: a condição humana; ele não conseguiria produzir nenhuma forma de arte se baseando apenas e exclusivamente numa informação totalmente nova e subterrânea.

No entanto, os inegáveis valores estéticos dessas obras não contradizem com o que eu disse e digo sobre arte e entretenimento. Esses filmes transcendem seus gêneros. Eles não são importantes por seus enredos e histórias, mas sim por sua concepção, sua estética, seu DESIGN.

“Se houver qualquer ‘conhecimento’ a ser adquirido através da arte, é a experiência da forma ou estilo de conhecer o subjetivo, ao invés apenas do conhecimento do subjetivo em si.”

Para perceber as funções do artista como design cientista, temos primeiro entender que, nas suas mais amplas implicações, arte e ciência são as mesmas, são iguais.


Segundo a clássica definição de Eddington sobre ciência:

“ A tentativa para colocar em ordem os fatos da experiência corresponde com a visão sobre a ciência de Bronowski como ‘a organização do conhecimento como tal forma que ele comanda mais que o potencial escondido na natureza. [...] Toda ciência é a busca da unidade escondida no semelhante”

É o mesmo na arte: colocar em ordem os fatos da experiência é revelar a relação entre o homem e seu ambiente universal, com todos seus potenciais escondidos.

Só na medida em que o artista estabelece símbolos para a representação da realidade como uma estrutura de pensamento, a obra toma forma. O artista define esses símbolos se tornando consciente dos novos aspectos da realidade e representando sua consciência em forma plástica ou poética; daí resulta que qualquer extensão de consciência da realidade, qualquer percepção além do limiar de conhecimentos atuais, deve se estabelecer primeiro sua imagem sensorial.


Como design cientista o artista descobre e aperfeiçoa linguagens que correspondem mais diretamente à experiência; ele desenvolve um hardware que personifica o seu próprio software como uma ferramenta conceitual para lidar com a realidade. Ele separa a imagem a partir do seu significado simbólico oficial e revela seu potencial escondido, o seu processo, a sua atual realidade, a experiência da coisa. Processo e existência se pré-supõem.

O trabalho, em efeito, coloca esse “problema” de percepção, e nós, como espectadores, devemos dar a volta nesse “problema”, todos os “casos gerais” metafisicamente relacionados são codificados dentro da linguagem da peça.


Essa linguagem é a experimentação estética da informação design conceitual. Dirigida ao chamado “consciente inarticulado”, o domínio entre o subconsciente e o consciente que não pode ser expresso em palavras, mas de que estamos constantementes conscientes.

O artista não assinala novos fatos tanto quanto ele cria uma nova linguagem conceitual de design informação, com o que vamos chegar a uma nova e mais completa compreensão dos fatos antigos, alargando, assim, o nosso controle sobre os ambientes exteriores e interiores.


A minha teoria pessoal sobre o cinema é simples: quando o cineasta desenha (design) uma ciência ele transcende os parâmetros de seu gênero; nossa compreensão desse gênero, é que a condição humana é assim, expandida. A cibernética demonstrou que a estrutura de um sistema é um índice de desempenho que pode ser esperado a partir dele. Isto é, o desenho conceitual de um filme determina a variedade e quantidade de informação, que provavelmente vamos obter a partir dele. E, temos visto que a quantidade de informação é diretamente proporcional com o grau de opções disponíveis que podemos ver... drama, história, enredo, que restringem a escolha, restringem também informação.

Assim, o autor está limitado ao desenvolvimento de novos designs para informações antigas, e que nós sabemos que pode ser extremamente agradável e instrutivo.

Não existem idéias “novas” em ‘A Aventura’, por exemplo. Porém, Antonioni expressou a consciência inarticulada de toda uma geração através do conceitual e da sua integridade estrutural transcendental, design ciência, fundindo senso e símbolo, forma e conteúdo.

A concepção do entretenimento comercial não é nem uma ciência nem uma arte; ela apenas corresponde ao gosto comum, a visão mastigada e aceita, ao medo de perturbar o telespectador em reação à formula."


“ONDE A BELEZA TERMINA É ONDE O ARTISTA COMEÇA”

John Cage

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